KARATE: LUTA, ESPORTE OU
ARTE MARCIAL?
Sabemos que as práticas de combate desarmado são tão antigas quanto a própria humanidade. A história das Artes Marciais confunde-se com a evolução humana e perde-se no tempo. Na Grécia antiga, disputas esportivas, passando pelo oriente - Índia, China e Japão -, o florescimento das Artes de Guerra dotadas de preceitos filosóficos, éticos e morais.
Porém, ao se chocarem com a cultura ocidental, principalmente nos países da América, as Artes Marciais vêm sofrendo ao longo das gerações uma perda de valores e princípios antes inerentes a sua estrutura.
O Karate em particular foi fundamentado no Japão pelo Bushido, a via dos antigos Samurais, onde uma série de aspectos formais e conceitos relativos à disciplina, ao comportamento cortês, a boa educação e o empenho pelo esforço e persistência eram peças fundamentais na vida desses guerreiros.
Hoje a popularização das Artes Marciais trouxe a inserção de competições esportivas no Karate, no Judô, no Taekwondo e entre outras, que se destacam por utilizarem regras de proteção à integridade física de seus atletas e visam à competição saudável e amistosa. E embora adaptadas aos novos tempos, estas modalidades ainda mantém no seio de seu aprendizado aqueles fundamentos relativos ao adequado comportamento do indivíduo perante a sociedade, ou seja, trata-se do “esporte” moderno aliado ao tradicionalismo do “Marcial”.
O grande problema que muitas vezes têm descaracterizado a beleza das milenares Artes é o surgimento recente de modalidades de simples “lutas”, onde objetivo único tem se mostrado decidir quem é o mais forte vencendo duelos, como uma espécie de circo de arena que distrai o povo das questões mais sérias da sociedade. Tais modalidades são originárias das Artes Marciais tradicionais, porém desprovidas dos aspectos culturais a elas inerentes.
Considera-se de enorme perigo à sociedade a expansão de tais modalidades, em virtude da falta de orientação de seus praticantes quanto à necessidade de desenvolver o autoconhecimento, controle e moderação no uso prático e na argumentação dos aspectos que envolvam o confronto corpo-a-corpo. Uma comparação ilustrativa seria conceder licença ao porte de armas para um cidadão cujo perfil psicológico não se enquadre no mínimo dos requisitos necessários para tal intento. Pois se compreende que um perito em Artes Marciais pode, em determinadas situações, causar lesões graves e até mesmo levar a morte de seu adversário no caso de confronto real.
Felizmente existem muitos instrutores com excelente formação, seja acadêmica ou aquela desenvolvida nos treinamentos diários, que disseminam a orientação educacional correlativamente ao ensino e aprendizagem de seus alunos. Cuidado, porém devemos ter com os maus orientadores, aqueles que deixaram de lado o que deveria ser o principal objetivo das Artes Marciais: o caminho do desenvolvimento pessoal, e prezam por direcionar seus discípulos com a restrita mentalidade de “vencer lutas”.
Esse processo de desvirtuamento ético e moral têm ocorrido nas mais diversas modalidades, o que descarta a hipótese de discriminarmos apenas determinadas disciplinas em particular. Caberá então ao leigo, antes de iniciar-se na prática propriamente, pesquisar e analisar o perfil psicológico e social que envolve cada grupo de praticantes e escolher aquele que melhor se adapte às suas necessidades, sendo que, se encontrar uma verdadeira escola de Artes Marciais terá logo nas primeiras impressões um clima de respeito mútuo e cortesia entre os seus praticantes.
André S. Maraschin
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